A saída de Bento XVI não significou apenas a retirada do papado titular de um membro da Igreja. Junto com ele carrega-se o patrimônio de uma visão teológica e um histórico de manutenção dessa visão desde os tempos do papa João Paulo II, que tinha Ratzinger como seu conselheiro.
A retirada de Leonardo Boff do exercício do sacerdócio foi, em grande medida, uma prática liderada por Ratzinger e, na época, significou a vitória de uma visão teológica tradicional e centralizadora em detrimento da então Teologia da Libertação.
As temáticas religiosas da Igreja deixaram, a partir de então, de estar focadas na questão social e no diálogo com os temas populares e passou a focar a intimidade da fé e a prática devocional de tradição popular.
A pressão exercida sobre Bento XVI quanto à necessidade de dialogar com o mundo sobre temáticas cada vez mais audaciosas provocou uma situação de desconforto no papa, algo que chocava-se veementemente com sua visão teológica.
Sua provável incapacidade ou resistência a dialogar com essa realidade provocaram sua saída.
O novo papa que deve advir precisa estar preparado para o diálogo com a sociedade sobre seus temas atuais e, ainda, abrir-se ao diálogo com outros povos, outras culturas e outras religiões.
Uma aproximação com os irmãos evangélicos é um imperativo que se fará cada vez mais urgente, tendo em vista que o que está em jogo não é simplesmente a manutenção de práticas devocionais de tradição popular, mas sim, a própria essência do cristianismo, como religião assentada no Evangelho e com princípios éticos bastante definidos.
A revolução religiosa que se anuncia com a escolha do novo papa deve assemelhar-se à do final da década de 50, culminando em 1963 (neste ano completa-se 50 anos da promulgação do Concílio Vaticano II).
A escolha, à época, de João XXIII configurou-se em uma abertura extraordinária da Igreja aos novos ares da sociedade mundial.
A entrada de Ratzinger no cenário religioso e teológico eclesiástico freou um pouco essa abertura, desde o final da década de 70 até agora, com sua retirada do papado titular.
O novo papa precisa ser bem mais jovem, ter uma visão mais próxima à da sociedade quanto aos temas centrais, sem, contudo, ceder ao esvaziamento da Doutrina Cristã.
Jovem sim, pois precisa viajar mais, ter uma linguagem mais próxima da juventude e atualizada no que diz respeito à sua capacidade de se comunicar com o mundo.
Sua voz precisa ser ouvida e, ainda, com força pelos povos.
Precisamos, na verdade, de um segundo João XXIII. Quem sabe, neste momento, nossos Cardeais não tenham a feliz ideia de escolher um revolucionário (responsável) para o papado e este venha a definir seu título como João XXIV?
Em última instância, o que espero é que a escolha do novo papa venha realmente a significar o que o Concílio Vaticano II significou para a Igreja, quando as missas eram antes em Latim, os padres celebravam de costas para o povo e muitos outros ítens que foram mudados à época.
A Igreja precisa ter mais a cara do povo.
Será que não vem aí a proposta do sacerdócio feminino?
Será que o casamento para padres não será discutido agora com mais detalhes?
Esses e outros temas virão à tona com a escolha do novo papa
por: Jânio Rocha Ayres Teles
IMAGEM: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517913-ratzinger-triste-solitario-y-final
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