sábado, 22 de maio de 2010

"A Banda" ... por... Pastor Oziel

A primeira vez que ouvi a música A Banda, de Chico Buarque, tive a impressão que estava ouvindo a banda tocar. Gostei da composição.

Por causa dessa música o compositor quase foi exilado do país.

A música é um ode a serviço dos fracos e oprimidos da na época da Ditadura Militar. Mas, aqui faço uma paródia. Não é uma tentativa de plágio, é que, às vezes, sinto viver uma Ditadura sorrateira.


Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor


Só quero dizer que não é preciso ficar à toa na vida para ver “a banda” passar. Pode cada um continuar seu trabalho. Quem é médico pode continuar medicando. Quem é advogado pode continuar advogando. Quem é pastor pode continuar pastoreando. Quem é parlamentar pode continuar no parlamento. Quem é professor pode continuar professorando. Só não sei é se “a banda” vai cantar coisas de amor.


A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor


Gente sofrida tem muita. Não é preciso ficar à toa para encontrar. Agora, despedir-se da dor para ver a “banda” passar é que o problema. A dor não volátil, não é uma sensação efêmera. Não se tira a dor com “Metamizol sódico ou dipirona sódica é um medicamento antiinflamatório não-estereoidal (AINE) que é utilizada principalmente como analgésico e antitérmico” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Metamizol). Se a dor irá embora, ao ponto de uma despedida, isto eu não sei, mas, é só o que posso oferecer, pois é só o que se tem. Outra dificuldade será cantar coisas de amor, pois, “a banda”, distoa. Não há compasso. Não há ritimo e harmonia, e mais: sua melodia é um problema para o ouvido da gente sofrida.


O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem


Homens sérios, mulheres sérias, de honradez comprovada, ilibada, isto tem bastante. Nosso torrão é berço da honra. Aqui já nasceram, passaram ou viveram, e mais, vivem ainda homens e mulheres de envergadura; agora, contar dinheiro: é outra conta. A banda cobrou alto para tocar. E o dinheiro foi pago adiantado do espetáculo. O faroleiro vendeu o farol e contribuiu e não conta mais vantagem nem dinheiro. A namorada, essa ainda conta estrelas, pois é só o que se tem para fazer depois “da banda”. Mas, um fato é certo: todos deram passagem à banda.


A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor


A banda causou grande problema. A moça triste que vivia calada e esperava seu show não sorriu, pois também contribuiu. Calada e triste a moça ficou. A rosa que vivia fechada murchou, pois não houve show, visto que, o palco com ela se enfeitou. A banda foi uma tragédia. Não é preciso ficar à toa para ver a tristeza da moça e o murchar da rosa. Quem fez festa foi a meninada. Meninos fazem festa com tudo. E ainda bem que é assim, pois, se não, não haveria esperança no futuro. Mas, como fazem festa com tudo, não eles mesmos cantaram coisas de amor, pois a banda não cantou. E não é preciso ficar à toa para ver.


O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela


O velho fraco, de tanto cansaço, enfraqueceu e morreu. Não era mais moço para correr atrás da banda, do dinheiro que perdeu. A moça feia debruçada na janela se decepcionou, porque a banda, para ela não tocou (não tocou para ninguém). A dor da feia se espalhou, nem dipirona sódica resolveu. Tá aí, quem mandou acreditar na banda? Vai, abre a janela novamente, debruça na janela, imagina que a banda vai tocar. E não é preciso ficar à toa para ver a banda destoar mesmo sem cantar ou tocar


A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor


A maior decepção da banda foi a marcha que todos esperavam. Deveria ser alegre, mas sua ausência foi triste. Deveria insistir e contagiar, mas, nem mesmo começou, para desespero do meu amor, do faroleiro, do velho, da moça triste e da meninada que teve que improvisar e fazer a festa, pois, a banda não tocou.


Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou


Para meu desencanto a banda não sumiu e a dor continuou. E o que mais revoltou foi que tudo saiu do lugar. A agitação chegou e o sofrimento apontou. O desencanto se desencantou e a alegria afugentou-se da minha gente sofrida que não se esqueceu da dor. O desespero aumentou quando se percebeu que as coisas não se tornam ao lugar com a mesma rapidez do caos que banda causou.


E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor


Cada qual foi de fato pro seu canto, o canto da dor. Depois que a banda passou nada restou, exceto a dor que nem com dipirona passou. Se o canto fosse a senzala a senzala era o lugar do canto, o canto da dor. A minha gente sofrida logo parou, parou para expulsar, expulsar a banda, a banda do horror, para que não haja mais canto, o canto da dor. Para tanto, a minha gente sofrida parou, para sonhar um fim da dor.

Bem, essa música tem seus créditos abaixo. Como disse, não é uma tentativa de plágio, é apenas uma paródia, produto da elucubração desse chapadinhense que vive ouvindo a banda tocar; até parece que estou traumatizado. Mas, ainda não estou rindo da honra e nem estou com vergonha de ser honesto. Até espero, pela graça de Deus, nunca desanimar de servir ao Senhor, servindo ao meu próximo (Mt. 25.31-46), mas, também, não significa que farei somente isto. Obrigado!



Rev. Oziel Galvão

Composição: Chico Buarque

© 1966 by Editora Musical Brasileira Moderna Ltda.
Administrada por Fermata do Brasil





Fonte da imagem da banda:
refoista.blogspot.com/2006_07_01_archive.html

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