A política brasileira na contemporaneidade, especialmente a maranhense, exige um grande repensar do papel da esquerda frente à realidade social, econômica e política das populações mais pobres de nossa sociedade.
A grande discussão se faz em relação a três pontos:
1 - Como a esquerda pode ter acesso ao poder para implementar as mudanças sociais que tanto almeja para a população mais pobre?
2 - Como chegar ao poder sem ter que implementar práticas políticas viciadas e sem se aliar com grupos também viciados politicamente?
3 - Ao chegar ao poder, terá competência para gerir o já constituído e, ao mesmo tempo, implementar mudanças sem que haja uma desestabilização no modo de vida da sociedade?
Eis as questões essenciais que embasam os debates da esquerda neste início do século XXI.
A partir daí, apresentar-se-á trechos de reflexões que já se vem realizando no Brasil e no mundo acerta dos pontos acima elencados. O objetivo de tal apresentação é iluminar a reflexão sobre os caminhos para o PT de Chapadinha-MA.
Vejamos:
"Novas estratégias
Diante deste complexo e desafiador quadro de incertezas, quais estratégias poderiam ser utilizadas pela esquerda para o século XXI?
Conforme o apontado anteriormente, as recentes transformaçõespolítico-econômicas ocorridas nas últimas décadas, principalmente o colapso do comunismo soviético e a crise financeira capitalista, colocam novas questões para o pensamento político global.
Neste contexto, a “velha esquerda” - marxista, socialista e revolucionária por excelência - mostra-se obsoleta e incapaz de interpretar e agir de forma consistente sobre o mundo contemporâneo. “A Esquerda necessita de uma visão [...] simultaneamente mais abrangente e mais exigente que a de Marx.” (ROGERS; STREECK, 1997, p. 184).
Doravante, é imprescindível amalgamar novas ideias a sua plataforma.
A liquidação da esquerda anterior, [...] por sua relativa debilidade, abriu campo para o surgimento de uma nova esquerda, desvinculada dos erros mais gritantes daquela força derrotada. Dentre eles estavam o atrelamento ao aparelho do Estado, as alianças subordinadas com frações burguesas, as posições internacionais de vinculação acrítica à URSS, a rigidez organizativa, a falta de criatividade política e cultural. (SADER, 1997, p.
11).
Diversos analistas asseveram a necessidade de uma esquerda mais moderada e menos ortodoxa. Para estes pensadores - ao contrário de setores da “antiga esquerda”, que apregoam o fim do Estado, do mercado e da propriedade privada - é preciso “reestruturar” e não “eliminar” tais instituições. Defendem também a via democrática em detrimento da via insurrecional como o melhor caminho para a esquerda chegar ao poder.
Manuel Escudero (1997) ressalta que a esquerda deve evitar a tentação utópica de construir sistemas globais perfeitos, e rejeitar qualquer concepção progressiva e determinista da história. Para David Miliband, mais do que criticar as injustiças do presente, é preciso fornecer esperanças realistas de mudança no futuro. “A tarefa da esquerda é [...] menos mostrar que a reforma é necessária do que mostrar que ela é possível”. (MILIBAND, 1997, p. 20).
Joana Andrade e Alexandre da Silva (2003) descrevem como principais características da nova esquerda: o abandono progressivo de vários pressupostos básicos das teses marxistas, a adoção de um “discurso único” em defesa do aperfeiçoamento gradual do sistema capitalista através de reformas legislativas e a renúncia ao método revolucionário.
Michel Rocard (1997), Gérald Collomb (2005) e Robert Kuttner (1997) enfatizam que o mercado (instituição historicamente repudiada e combatida por setores da esquerda tradicional) não deve ser abolido, mas organizado e regulado pelo poder estatal e pela sociedade.
Segundo Rocard, para haver uma economia bem sucedida não há alternativa fora do mercado. No entanto, como a livre circulação de mercadorias e capitais geralmente acentua as desigualdades sociais, faz-se necessário uma maior regulamentação dos mercados por parte do Estado. Collomb defende uma economia mundial baseada em um mercado racionalizado, voltado para a promoção do bem público. Já Kuttner adverte que o mercado, por ser instrumento de poderosos atores privados cujos interesses não coincidem com os anseios da maioria da população, deve ser socialmente controlado e dirigido. “A Esquerda tem de representar um paradigma alternativo. Deve argumentar que os mercados são instáveis, ineficientes e injustos”. (KUTTNER, 1997, p. 204).
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